Parte 3 - Marina


Toda vez que olho o livro na estante me lembro dele e não tem como não sorrir.

Lembro como se fosse hoje, meu dia tinha sido péssimo. Uma discussão horrorosa com a minha mãe, gritos, explosões. Tudo porque ela queria se mudar para uma nova cidade - coisa que eu não queria. A separação dos meus pais estava dando o que falar, ninguém se entendia, eu não me reconhecia, eles não eram mais os mesmo, tudo ia por água abaixo. Entrar naquela sala, naquele dia, me salvou. Dar de cara com o Pedro lendo Persuasão foi um refrigério para a minha alma.


No começo achei muito estranho. Um cara como ele lendo aquele livro só podia ser brincadeira. Não que eu estivesse tachando o Pedro de burro. Não! Ele não estaria nas aulas de inglês se não estivesse interessado. Mas Jane Austen era meloso demais, romântico demais, não acreditei quando vi.

Tentei me fazer de desentendida mas não conseguia tirar os olhos dele, acho que fui até inconveniente. Foi aí que eu errei. Era a oportunidade que ele queria. Havia dias que sempre o pegava me olhando, mas nunca dava bola e fingia que era para a loira atrás de mim que ele estava olhando.

Tudo foi culpa da Jane! Sua escrita sincera, Anne e a sua segunda chance para viver um lindo romance me desconcentrou. Nenhum livro tem esse poder sobre mim. Já cansei de ver pessoas andando por aí com livros em trem, metrô, carro, ônibus mas nunca me virei para olhar o título, mas com a Srta Austen tinha que ser diferente.

Pedro foi sortudo quando eu sorri para ele. Ele até conseguiu me arrancar uma risada quando perguntei se ele curtia a escritora para impressionar as meninas. No fundo eu sabia a resposta.

1 comentários:

Luana disse...

Quando eu vejo alguém lendo qualquer livro não consigo me conter até descobrir qual é o livro. As vezes, sou tão cara de pau que jogo a timidez pra longe e pergunto na cara dura. rsrsrs