Parte 6 - Pedro

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Depois do episódio da reverência que fez a Marina ficar vermelha de vergonha, as coisas foram ficando mais fácil. Sempre havia um assunto entre nós, e isso era muito bom. Ela era muito inteligente, o que ajudou muito, pois precisava constantemente da sua ajuda com aqueles verbos e algumas transições que me colocavam à beira da loucura.
E com uma paciência incrível, ela me acalmava e me orientava.

Saíamos para tomar um sorvete quando dava, ou simplesmente estudar na biblioteca.
Conversávamos longamente sobre uns livros muito estranhos que ela gostava. Ela era mesmo muito inteligente, conseguia falar de muitos assuntos diferentes, do quais nunca imaginei conversar com ninguém. Alguns deles que eu nem sabia que existia alguém capaz de descrevê-los. Porém, ela os sabia muito bem.
Foi quando notei que ela precisava conhecer minha mãe. Dona Rose precisava saber mais sobre essa pessoa fascinante que eu estava conhecendo. Fiquei até imaginando as duas falando sobre livros obscuros, difíceis de entender, que com certeza Marina conhecia. Aquela menina era uma enciclopédia ambulante.

A descrevi para a minha mãe. Foi um erro, porque naquele dia descobri que Marina já estava se tornando uma pessoa muito especial na minha vida. Dona Rose me viu suspirar e quase morreu de tanto rir porque até então segundo ela, "eu não tinha me encantado por nenhuma menina". Foi um vexame ver minha mãe me zuando por causa de uma garota; nunca achei que esse dia chegaria. Simplesmente pedi que ela se controlasse - e parasse de rir - e contei o que pensava e sentia. 

Foi bom, e vi que minha mãe tinha razão. Os dias ficavam muito melhor quando a Marina estava comigo ou por perto, quando a fazia sorrir e observava aquele brilho nos olhos dela que ninguém mais via. Não falei nada sobre a minha mãe, porque desconfiava que ainda era cedo. Marina iria se assustar com tanta impulsividade da minha parte, e talvez até bloqueasse futuros acontecimentos - o que não era a minha vontade.

Pouco a pouco eu ia aprendendo que decidimos como a vida será. Eu estava apaixonado e só tinha certeza de uma coisa por enquanto: Marina iria fazer parte da minha vida. Eu sabia. Eu acreditava nisso incansavelmente.

Parte 5 - Marina

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Meu dia tinha sido horrível!
Tudo que eu queria era chegar naquela sala e encontrar um pouco de paz. Minha mãe não parava nunca de me dizer o que tinha que fazer, como queria que eu me entendesse com meu pai. Essas discussões acabavam comigo. Ela não entendia que não podia perdoá-lo. Sentia-me péssima como se levasse o mundo nas costas.

Graças a Deus a aula hoje seria com música, o que iria me distrair mais ainda. "Good Girl Gone Bad" foi um início muito bom. Estava precisando e estava com sorte! E por falar em sorte, ele ainda estava aqui... Pedro.

Quando a Rihanna começou a cantar as primeiras frases, senti uma mão se aproximando das minhas e deixando cair um pedaço de papel. Distraida, perdi o ritmo da música e peguei o papel que caiu no meu colo.
"Quando vou ver seu sorriso denovo?"
Sei que não precisava fazer tempestade num copo d'água por causa daquele bilhete ou daquele sorriso da outra aula, porque não significava nada. Mas essa era eu: "Marina, a estranha". Sempre se  esquivando das pessoas, sempre se esquivando dos sentimentos, sempre se esquivando de fazer novas amizades, de conversas, da vida. O que eu podia fazer se era satisfeita com o rumo que minha vida estava tomando. Eu já tinha a Bê - Beatriz, minha melhor amiga - e às vezes as coisas já complicavam entre agente, imagina com as outras pessoas.
Não queria que Pedro se aproximasse de mim. Já estava farta das pessoas entrando e saindo da minha vida. Gostava do meu mundo com poucas pessoas. Só eu já bastava, e mesmo assim já não me aguentava. Ter que lidar com outra pessoa era demais para minha cabeça. O que eu deveria fazer então? Ignorá-lo? Acho que não, só ia surtir um outro efeito que não me levaria a nada, de repente só mais insistência da parte dele. Então não tive outra opção. Escrevi o bilhetinho e o joguei para ele.
"A fonte dos sorrisos secou, mas quem sabe Jane Austen não me anima... Olhe!"
E quando ele virou para me olhar, eu já estava com meu exemplar de "Orgulho e Preconceito" que estava relendo pela milésima vez. E já que era um sorriso que ele queria, lá estava ele estampado no meu rosto, mesmo eu não estando nos meus melhores dias. E ainda completei dizendo:
- Em sua homenagem. - sorri novamente.
E foi realmente engraçado porque ele levantou e fez uma reverência.
Apesar de não querer, foi assim que a minha muralha caiu e Pedro foi o grande responsável por essa façanha. Mas ele não sabia onde estava se metendo. Não mesmo!